A formação do militar brasileiro

Estudei no Colégio Naval e na Escola Naval. Fiz muitos amigos por lá e os conservo até hoje. São ótimas pessoas e grandes companheiros, alguns até brilhantes intelectualmente. Entretanto, não podemos esquecer que esses amigos trazem dentro deles a formação acadêmica e militar da extrema direita. 
Até hoje, nunca tinha lido nenhum comentário de jornalista sobre o tipo e a qualidade da formação do militar brasileiro, condições fundamentais para que o país se livre, definitivamente , das ditaduras e foi com surpresa e admiração que li a coluna do Jânio de Freitas. Ele botou o dedo na ferida.
Aí vai um trecho.

O cinquentenário de 64 mostra-se como um brado uníssono de "ditadura nunca mais". Talvez seja assim. Mas só poderá ser se consumadas duas condições.
O ensino das escolas militares precisaria passar por reformulação total. A do Exército, mais que todas. Nas escolas militares brasileiras não se ensinam apenas as matérias técnicas e acadêmicas apropriadas para os diferentes ramos da carreira militar. Muito acima desse ensino, as escolas militares ocupam-se de forjar mentalidades. Uniformes, planas, infensas à reflexão, e, por aí já está claro, ideológica e politicamente direcionadas. São produtos criados ainda para a Guerra Fria.
É por isso que se vê, há tantos anos, tão igual solidariedade e defesa dos atos e militares que, para a lei e para a democracia, são criminosos, muitos de crimes hediondos e de crimes contra a humanidade.
As escolas militares não preparam militares para a democracia.
Outra condição é que se propague a noção de soberania, tão escassa nos níveis socioeconômicos que influenciam a condução do país. Em seu artigo naFolha de ontem, o embaixador Rubens Ricupero contou de documentos por ele vistos, na Biblioteca Lyndon Johnson, em que os "reformistas" conduzidos por Roberto Campos, no governo Castello Branco, sujeitavam aos americanos até a revisão do currículo escolar. Se a imaginação conseguir projetar a mesma conduta para o sistema financeiro privado, por exemplo, pode-se ter uma ideia dos obstáculos que a construção do desenvolvimento brasileiro enfrenta.
Nunca mais? Pode ser. Ou: depende. O certo é que a história não faz gentilezas. 

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