Noel Rosa, a biografia que foi proibida
Depois de 70 anos da morte de Noel, sua obra entrou em domínio público, entretanto, toda tentativa de esmiuçar a vida do compositor, de maneira não autorizada por seus herdeiros legítimos, inevitavelmente naufraga por representar violação ao direito à privacidade.
Nessa celeuma esbarra o trabalho mais completo já feito sobre vida e obra do compositor de Vila Isabel, Noel Rosa – Uma Biografia, de João Máximo e Carlos Didier. Lançado em 1990, pela Editora UnB, o livro ficou disponível em catálogo até 1994, vendendo cerca de 15 mil exemplares. No período seguinte – até hoje –, houve várias tentativas para reeditar a biografia, com editoras como José Olympio, Ed. 34, Cosac Naify e, por último a Ediouro, mas nenhuma vingou.
Noel morreu em maio de 1937. Todo seu material ficou sob a tutela de sua esposa Lindaura, que faleceu em agosto de 2001. Assim que a viúva morreu, duas sobrinhas do Poeta da Vila, Irami Medeiros Rosa de Melo e Maria Alice Joseph (filhas do irmão de Noel, Hélio Rosa) apareceram para reivindicar a herança do tio. Afirmando que Noel nunca fora casado com Lindaura, e que elas eram as verdadeiras herdeiras, ambas moveram um processo contra os autores da biografia e a UnB, alegando invasão de privacidade da família Medeiros Rosa.
– A gente estava dentro da lei, mas tem essa coisa, que surgiu com a Constituição de 88, de que não se pode tocar na vida privada. É fácil fazer biografias cor-de-rosa. Nosso livro não é sensacionalista, apenas aborda pontos nevrálgicos da vida do Noel, como o suicídio da avó e o acidente no queixo, fundamental para compreender o estigma do gênio. É como a biografia do Roberto Carlos. No fim das contas, vão vetando o acesso dos brasileiros às informações. Vivemos na escuridão, na era do controle. Sem contar que temos fotos e a certidão do casamento de Noel com Lindaura – diz Carlos Didier.
– Lindaura foi uma lavadeira. O livro esmiuça nossa vida privada, botou minha família na lama. Isso é inveja, não conheço os autores, mas os comentários deles não me atingem. Sem o livro, eles devem estar bem tristinhos. Confio incondicionalmente no meu genro, que cuida de tudo isso, não vou mais me envolver, já estou com uma certa idade. Mas não tenho pressa, nunca precisei de direito autoral para sobreviver. É tudo uma questão de sentar e negociar – responde por telefone Irami, sobrinha de Noel.
Por causa do embargo, a biografia que representa o mergulho mais profundo e vertical sobre a figura de Noel Rosa tornou-se artigo de colecionadores ou endinheirados. Hoje, paga-se R$ 290 por um exemplar.
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