Tudo parado
Do blog da Cora Rónai
Naquela época ainda fazia sentido ter carro no Rio. Também fazia sentido ir eventualmente à Barra, escola da Bia à parte. Fazíamos compras no Carrefour, íamos ao cinema ou às compras no Barra Shopping, às vezes almoçávamos no Ettore ou, aventura das aventuras, ainda mais longe, em Pedra de Guaratiba. Num que outro fim de semana frequentávamos a Prainha. Também íamos comer bacalhau no Encantado e empadinhas de camarão na Tijuca. As distâncias, contadas em quilômetros e não em horas, faziam parte de um hábito que morreu em algum momento do século passado, e que se chamava “passear de carro”.
Na sexta-feira retrasada peguei um táxi em frente de casa, na altura do Corte de Cantagalo, para ir à Fonte da Saudade — uma corrida boba que, normalmente, leva cerca de dez minutos, e custa uns 12 ou 13 reais. Pois levei uma hora e meia e paguei 40 reais. Em vários momentos tive vontade de descer do carro e seguir a pé, mas fazia um calor insuportável, eu estava com uma roupa pouco apropriada para derreter ao sol e, além disso, seria covardia abandonar o motorista sozinho com o prejuízo.
Na segunda-feira passada tive que ir à Barra. A corrida, se é que se pode chamá-la assim, levou duas horas. O percurso, que antes me dava tanto prazer, há tempos se tornou um suplício; hoje só vou à Barra por absoluta necessidade, e faço o que posso para que essa necessidade seja cada vez menor. Não há comércio, restaurante ou espetáculo que justifique tanto tempo perdido.
O horrendo trânsito do Rio, que já ultrapassou São Paulo como cidade mais engarrafada do Brasil — e que ostenta o tristíssimo título de terceira cidade mais engarrafada do mundo — acaba com a alegria de qualquer um. Não é só o tempo perdido, o estresse sem fim; ficamos cada vez mais confinados aos nossos bairros, perdemos o prazer de percorrer e de descobrir a nossa cidade. A vida fica menor.
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