Vamos mudar o nome do Engenhão
Do blog do Mario Magalhães, entrevista com André Iki Siqueira, biografo de João Saldanha.
Em tempo, Mario Magalhães é o autor do livro "Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo”.
Do blog do Mario Magalhães, entrevista com André Iki Siqueira, biografo de João Saldanha.
Em tempo, Mario Magalhães é o autor do livro "Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo”.
Sua proposta de mudança de nome para João Saldanha foi feita antes de Havelange ser denunciado por propina?
Sempre fui contra o nome de Havelange no Engenhão ou em qualquer outro equipamento público, por questões ideológicas. Respeito quem pensa diferente, mas eu penso assim e o meu campo é claro, sou um homem de esquerda. Alguém imaginaria batizar um novo estádio em São Paulo com o nome de Paulo Maluf ou de algum personagem que apoiou ou foi ligado à ditadura no Brasil?
Depois das denúncias publicadas no mundo e da sua queda anunciada e, posteriormente, confirmada, fiquei mais convencido do que nunca. O importante, primeiro, é ter sensibilidade para desfazer a homenagem eterna e considerá-la uma etapa do Engenhão. O nome do João Saldanha surgiu naturalmente. Há outros bons nomes, mas João é o mais completo.
Aí, quando fecharam o Engenhão para reformas, sugeri aproveitar o momento e reformar também o nome do estádio para João Saldanha, provocando o debate.
Mas é jogo duro. Tenho consciência que será preciso coragem política e atitude para fazer a mudança. Significa enfrentar um grupo poderoso, que manda no esporte nacional há muito tempo. Por isso estamos vendo essa situação que parece que a bola tá queimando no pé de quem precisa resolver o assunto. Na hora da onça beber água, tem gente pipocando
Por que Estádio João Saldanha?
Eu sou suspeito, mas não faltam razões para defender João Saldanha. Homem apaixonado por futebol – não por cargos ou negócios; apaixonado pelo Brasil e pelo Rio, cidade que adotou nos anos 30, vindo do Rio Grande do Sul. Virou o mais carioca dos gaúchos, popular, idolatrado, profundo conhecedor do futebol, treinador campeão pelo Botafogo de 1957, de Nilton Santos e Garrincha; técnico que montou e classificou a seleção de 70 para a Copa do Mundo, com as feras do Saldanha; o comentarista que o Brasil inteiro consagrou; escritor de primeira qualidade, respeitado em todo mundo do futebol, por profissionais, imprensa e povo. Um homem que sempre esteve com sua vida em jogo na defesa do Brasil, da liberdade e do esporte.
Imaginem o pai contando para o filho quem foi João Saldanha. Não é uma diferença gritante de resposta?
E futebol é alegria, mas também é escola de vida.
Que iniciativas estão em curso para que ocorra a mudança?
A mobilização está ganhando força na internet, entre jornalistas, botafoguenses e até vascaínos, como eu. A ideia surgiu no ano passado e foi lançada pelo Núcleo de Estudos e Projetos Esporte e Cidadania. Há uma iniciativa dos vereadores Eliomar Coelho, Paulo Pinheiro e Renato Cinco (PSOL), que encaminharam um projeto de lei na semana passada. Alguns deputados estaduais – Marcelo Freixo (PSOL) e Robson Leite (PT) – e federais também estão na defesa do nome de Saldanha, incluindo Romário (PSB) e Chico Alencar (PSOL). O presidente da Comissão Estadual da Verdade (RJ), Wadih Damous já defendeu a troca de nomes.
Mas o prefeito Eduardo Paes, com todo respeito, pisou na bola em entrevistas recentes, quando disse que é uma decisão do Botafogo e não vai alterar denominações de instituições ou de áreas públicas por não concordar com a homenagem. Citou os exemplos de uma escola que leva o nome de Emílio Garrastazu Médici e do viaduto 31 de março. Respeito sua posição, mas discordo. Aliás, seria uma boa oportunidade, aproveitando a sua lembrança, para trocar também o nome da escola, porque Médici é um péssimo exemplo para os alunos, o general-presidente do período mais duro da repressão política. A história avança, novos fatos vão surgindo e é preciso rever posições.
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