O trenzinho do caipira
A tocata da Bachiana nº 2 do Villa-Lobos é chamada de "Trenzinho do caipira".
É muito bonito.
Só conheço 2 músicas do Villa que possuem letras, são elas o "Trenzinho do caipira" e a "Melodia sentimental". A letra da "melodia sentimental" é da Dora Vasconcellos e a do Trenzinho, do Ferreira Gullar.
Sempre achei estranha essa parceria. O Villa-Lobos morreu na década de 50 do século passado e o Gullar estaria então nos seus vinte e poucos anos e talvez ainda lá no Maranhão. Dificilmente aconteceu esse encontro e, além do mais, o Ferreira Gullar nunca fez letra para ninguém.
Teria que ser algo póstumo.
Agora que tomei conhecimento do "Poema Sujo", tudo passou a fazer sentido.
Tudo começa com a perseguição aos artistas e intelectuais brasileiros, promovida pelos golpistas de 64.
Gullar foi para o Chile e lá ficou até que em 73, os gorilas de lá, também deram o golpe, mataram Salvador Allende, presidente eleito pelo povo e promoveram um banho de sangue.
Os exilados brasileiros entraram em pânico e foram embora do Chile. Muitos voltaram para o Brasil, mas Gullar foi para Buenos Aires.
O problema é que, também lá, começaram a surgir rumores de golpe militar contra a Isabelita. Muitos brasileiros começaram a correr da Argentina também, mas para o Gullar estava difícil. Seu passaporte foi cancelado pelo governo brasileiro, estava sem grana, sem perspectivas, no fundo do poço.
Foi nesse contexto que nasceu o "poema sujo". Ele reflete o caos que ele estava vivendo, mas também menciona as lembranças do Maranhão, das coisas da infância e da sua primeira viagem de trem com seu pai.
O poema vai sendo lido, declamado, até uma determinada parte em que é mencionada a viagem no trenzinho. Aí cessa a declamação e surgem uns versos que devem ser cantados com a música da Bachiana nº 2 do Villa- Lobos. Em seguida, a recitação é retomada.
"Lá vai o trem com o menino (para ser cantada
lá vai a vida a rodar com a música
lá vai ciranda e destino da Bachiana nº 2,
cidade e noite a girar da Tocata, de Villa-Lobos)
lá vai o trem sem destino
pro dia novo encontrar
correndo vai pela terra
vai pela serra
vai pelo mar
cantando pela serra do luar
correndo entra as estrelas a voar
o ar "
Eu não sei não, não sou conhecedor de poesia, mas soa como algo novo, inusitado, como o coral de vozes humanas que o Beethoven colocou na Sinfonia nº 9.
Vinícius veio de Buenos Aires em 76, trouxe consigo uma cópia do poema e passou a fazer, em sua casa, a leitura do mesmo para os amigos.
Edu Lobo, presente numa dessas leituras, ficou fascinado e resolveu incluir o "Trenzinho do Caipira" no disco que estava lançando.
É muito bonito.
Só conheço 2 músicas do Villa que possuem letras, são elas o "Trenzinho do caipira" e a "Melodia sentimental". A letra da "melodia sentimental" é da Dora Vasconcellos e a do Trenzinho, do Ferreira Gullar.
Sempre achei estranha essa parceria. O Villa-Lobos morreu na década de 50 do século passado e o Gullar estaria então nos seus vinte e poucos anos e talvez ainda lá no Maranhão. Dificilmente aconteceu esse encontro e, além do mais, o Ferreira Gullar nunca fez letra para ninguém.
Teria que ser algo póstumo.
Agora que tomei conhecimento do "Poema Sujo", tudo passou a fazer sentido.
Tudo começa com a perseguição aos artistas e intelectuais brasileiros, promovida pelos golpistas de 64.
Gullar foi para o Chile e lá ficou até que em 73, os gorilas de lá, também deram o golpe, mataram Salvador Allende, presidente eleito pelo povo e promoveram um banho de sangue.
Os exilados brasileiros entraram em pânico e foram embora do Chile. Muitos voltaram para o Brasil, mas Gullar foi para Buenos Aires.
O problema é que, também lá, começaram a surgir rumores de golpe militar contra a Isabelita. Muitos brasileiros começaram a correr da Argentina também, mas para o Gullar estava difícil. Seu passaporte foi cancelado pelo governo brasileiro, estava sem grana, sem perspectivas, no fundo do poço.
Foi nesse contexto que nasceu o "poema sujo". Ele reflete o caos que ele estava vivendo, mas também menciona as lembranças do Maranhão, das coisas da infância e da sua primeira viagem de trem com seu pai.
O poema vai sendo lido, declamado, até uma determinada parte em que é mencionada a viagem no trenzinho. Aí cessa a declamação e surgem uns versos que devem ser cantados com a música da Bachiana nº 2 do Villa- Lobos. Em seguida, a recitação é retomada.
"Lá vai o trem com o menino (para ser cantada
lá vai a vida a rodar com a música
lá vai ciranda e destino da Bachiana nº 2,
cidade e noite a girar da Tocata, de Villa-Lobos)
lá vai o trem sem destino
pro dia novo encontrar
correndo vai pela terra
vai pela serra
vai pelo mar
cantando pela serra do luar
correndo entra as estrelas a voar
o ar "
Eu não sei não, não sou conhecedor de poesia, mas soa como algo novo, inusitado, como o coral de vozes humanas que o Beethoven colocou na Sinfonia nº 9.
Vinícius veio de Buenos Aires em 76, trouxe consigo uma cópia do poema e passou a fazer, em sua casa, a leitura do mesmo para os amigos.
Edu Lobo, presente numa dessas leituras, ficou fascinado e resolveu incluir o "Trenzinho do Caipira" no disco que estava lançando.
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